Um dos maiores desafios para um autor é lançar um novo livro depois de um primeiro retumbante sucesso. CRia se enorme expectativa e essa pressão pode inibir o escritor. EDney Silvestre enfrentou esse problema Se eu fechar os olhos agora mereceu importantes prêmios literários e despertou o interesse do mercado estrangeiro. SEm se abalar por essas questões circunstanciais, Silvestre trabalhava uma nova narrativa, essa que temos em mãos.A Felicidade é facil comprova que Silvestre veio ocupar um lugar de destaque no quadro literário brasileiro. COm engenho, ele subverte a forma vencedora do primeiro romance, em que a macro história (o conturbado período pré ditadura militar) servia como pano de fundo a um relato de violência e mandonismo. NEste novo livro, os destinos pessoais estão indissoluvelmente ligados à macro história, o governo Collor. O Autor une as duas pontas da história recente do Brasil se em Se eu fechar os olhos agora havia ainda uma certa inocência, por meio do olhar das crianças, em A felicidade é fácil ingressamos na era do cinismo, do despudor, do salve se quem puder.TEcnicamente, Silvestre nos dá uma lição com alguns elementos típicos da narrativa policial, cria um romance político, gênero difícil e quase inexplorado no Brasil. TUdo transcorre, em capítulos intercalados, em menos de 24 horas, a partir da cena de um sequestro. FIcamos conhecendo então Olavo e Ernesto, publicitários envolvidos com a alta corrupção do governo federal Mara, uma ex acompanhante de executivos Irene e o marido, além do filho, empregados domésticos Major, motorista particular, e sua filha, Bárbara e os membros de uma quadrilha internacional de sequestradores.IMpressionante como Silvestre penetra nos universos distintos de cada um desses personagens. O Narrador trafega com desenvoltura pelos gostos consumistas de Olavo e Mara, pelos meandros da sangria de dinheiro do Brasil para o exterior, pelo mundo de desejo e frustração do casal Irene Stephan e do Major e sua filha e, ainda, pelo linguajar e modos de delinquentes de alto coturno.AO fim e ao cabo, em meio à lama que parece avançar sobre tudo, Silvestre encontra esperança. COmo no poema de Drummond, em que uma flor fura o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio. SUblime.