Em 1787, o Marquês de Sade (1740 1814) escreveu Justine ou Os infortúnios da virtude, sobre as desventuras sexuais sofridas por uma menina pobre. Anti Justine ou As delícias do amor, do também francês Restif de la Bretonne (1734 1806), contrapõe se às sádicas idéias do marquês. O narrador criado por Restif de la Bretonne gentilmente nos participa as suas principais aventuras eróticas, sendo o incesto o tema central as primeiras sensações sexuais junto às irmãs, a perda da virgindade com a própria mãe e o amor pela filha. Ao contrário dos personagens de Sade, que sempre precisam de um bálsamo milagroso para curar as mutilações infligidas pelos algozes na noite anterior, os de Anti Justine só estão em busca do bem estar. Seus corpos não estão a serviço de obsessões brutais ou de gostos violentos e menos ainda de teses filosóficas sobre o sentido da liberdade , mas, inocentemente, livres de regras morais, buscam o prazer, sobretudo o prazer feminino. Restif banha seus personagens nas águas cálidas da afeição, do carinho, do reconhecimento mútuo, e todos o pai, a filha pensam apenas no prazer e bem estar do outro. Isso tudo faz de Anti Justine um caso raro na literatura libertina do século 18 uma das poucas ocasiões em que o verdadeiro tema não é a morte ou a destruição, mas o sexo, pura e simplesmente. Escrito em 1798, Anti Justine foi publicado pela primeira vez, clandestinamente, em 1863 e, em tempos de banalização do sexo e do corpo, é nada menos do que atual e provocador.