O sertanejo é, antes de tudo, um forte. No árido arraial de Canudos, no sertão baiano, organizou se, em meados da década de 1890, uma comunidade de pessoas pobres, seguidoras do líder religioso Antônio Conselheiro. Estima se que tenham chegado a 25 mil indivíduos. Era uma sociedade à margem do Estado baiano e da jovem República brasileira. O descumprimento de pequenas leis e o descontentamento com questões relativas a impostos provocaram a ira do governo, que respondeu enviando tropas estaduais e a seguir federais para esmagar o povoado. Euclides da Cunha (1866 1909) visitou o palco do conflito em 1897 como correspondente do jornal O Estado de S.Paulo. Até então, a notícia que se tinha do longínquo embate era de sertanejos selvagens, fanáticos religiosos e antirrepublicanos. Após retornar ao centro do país, Euclides redigiu a maior parte do que viria a ser Os sertões, publicado pela primeira vez em 1902. Decorrido mais de um século de sua publicação e da Guerra de Canudos, esta obra peculiar e grandiosa, misto de reportagem de guerra, ensaio documental histórico e libelo político, continua sendo um texto fundamental para se entender o Brasil de ontem e de hoje.