A questão não é por que nos apaixonamos por Roberto e não por Vitor, ou por que nos apaixonamos por Elvira e não por Débora. A questão é por que nos apaixonamos Estamos sempre tentando justificar a escolha de um parceiro em detrimento de outro e não raro dizemos Não entendo como fui me apaixonar logo por ele. Mas não é isso que importa. Poderia ser qualquer um. A verdade é que a gente decide se apaixonar. Está predisposto a envolver se o candidato a esse amor tem que cumprir certos requisitos, lógico, mas ele não é a razão primeira de termos sucumbido. A razão primeira somos nós mesmos. Cada vez que nos apaixonamos, estamos tendo uma nova chance de acertar. Estamos tendo a oportunidade de zerar nosso hodômetro. De sermos estreantes. Uma pessoa acaba de entrar na sua vida, você é 0 km para ela. Tanto as informações que você passar quanto as atitudes que tomar serão novidade suprema é a chance de você ser quem não conseguiu ser até agora.Desde que Martha Medeiros iniciou se na arte da crônica, vem analisando e descrevendo as manias, as delícias, sofreguidões e anseios de homens e mulheres urbanos e modernos, fazendo um verdadeiro retrato de nossa época. Com a franqueza e com o texto dinâmico que lhe são característicos, relata e explica grande parte das taras, neuras e outros produtos mais e menos louváveis de nossa sociedade consumista e, por vezes, conformista tudo sempre visto de dentro, pois ela nunca se exclui de suas considerações.Nas crônicas de Martha Medeiros há espaço para todas as normalidades e todas as esquisitices que nos caracterizam o sentimento de frustração, o tique taque do relógio biológico feminino, a necessidade de dinheiro versus a necessidade de sossego, o progressivo apagamento das fronteiras entre um e outro sexo, máquinas de provocar orgasmos, choros, filmes, livros e músicas, a delícia e a tragédia de amar duas pessoas ao mesmo tempo, a delícia e a tragédia de não amar ninguém e tantas outras coisas da vida.